Histórias de Hamburgo Velho e participação do público marcam estreia do projeto Cidade (In)visível

por Daniele Silva última modificação 13/12/2021 21h08
16/04/2021 – Idealizado pela Escola do Legislativo hamburguense, em parceria com a Associação dos Procuradores do Município (APMNH) e a OAB Subseção Novo Hamburgo, o projeto Cidade (In)visível: Cultura, Patrimônio e Identidade tem por objetivo debater a produção cultural, herança arquitetônica e curiosidades da formação do Município em uma série de lives transmitidas pela TV Câmara, canal 16 da Claro/Net, e canal legislativo no Youtube. O primeiro encontro ocorreu na noite desta quinta-feira, 15, levando ao público histórias que culminaram no tombamento do Centro histórico de Hamburgo Velho e na criação do parque Henrique Luis Roessler, o Parcão.

Inspirado no romance de Italo Calvino, a ideia é mostrar que não apenas a parte física faz o lugar, mas a correlação de histórias, relatos e personalidades que o habitaram. “Poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da circunferência dos arcos dos pórticos, de quantas lâminas de zinco são recobertos os tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado.”

A estreia contou com a participação de Angelo Reinheimer, curador da Fundação Scheffel; Cinara de Araújo Vila, procuradora do Município de Novo Hamburgo; e Udo Sarlet, professor municipal e ex-secretário de Meio Ambiente. A diretora da Escola do Legislativo, Maria Carolina Hagen, falou sobre a criação do projeto e os desafios de dar continuidade ao trabalho educacional e de aproximação da Câmara com a comunidade em meio à pandemia. “A escola existe há sete anos e desde 2020 estamos nos reinventando na forma de trabalhar. Um dos nossos desejos era realizar atividades ao vivo, com a participação de público, e isso foi possível por meio da parceria com essas entidades, que buscam também compartilhar o conhecimento dos servidores públicos com a comunidade e buscar a conexão com os cidadãos hamburguenses através do estabelecimento de diálogo sobre temas importantes para a cidade.”

“A obra de Calvino serviu de inspiração para a denominação desse projeto inclusivo e colaborativo. Assim como o texto do livro tem seduzido leitores a refletir sobre o fenômeno urbano, nosso projeto quer também fazer amadurecer a compreensão sobre o fato de que ao falarmos de uma cidade estamos diante de algo muito mais complexo do que o projeto de um edifício, de uma rua, de uma escola, um hospital, ou de um bairro”, enfatizou a advogada Cinara Vila. Segundo ela, as conversas são um convite à participação social. “Queremos dialogar e ouvir aqueles que apreciam a cidade e com ela criam uma relação de afeto, seja pelo trabalho, pela história ou por vínculos diversos que reúnem em uma localidade com muita diversidade.”

Ângelo mencionou a felicidade em participar do primeiro de uma série de encontros que pretende emergir a memória da cidade e das pessoas que fazem Novo Hamburgo ser o que é hoje. “A cidade teve uma expansão imobiliária muito rápida e expressiva há algumas décadas. Mesmo assim, o Centro Histórico de Hamburgo Velho, o corredor cultural e parte do Centro ainda guardam elementos preservados.” Ele falou sobre a alegria de Ernesto Frederico Scheffel ao receber, em 2015, a notícia do tombamento do centro histórico, mas rememorou parte da história que precedeu esse momento. “O município completou 94 anos, mas tem uma história de quase dois séculos. Nós temos uma pré-história, que iniciou em 1876 com a chegada do trem a Novo Hamburgo. Fato que transferiu o centro comercial da cidade para outro ponto, possibilitando a preservação do que hoje conhecemos como centro histórico.” O curador destacou também o papel do primeiro prefeito da cidade, Leopoldo Petry, como fundamental para a preservação e elaboração de vários registros historiográficos.

Primeiro gestor ambiental do Município, Udo Sarlet mostrou a imagem de um levantamento aerofotogramétrico, feito em 1956, do local onde anos depois seria criado o Parcão. Destacou também a participação de Scheffel  junto ao Movimento Roessler e à União Protetora do Ambiente Natural (UPAN) de São Leopoldo na criação do Grupo do parque, em 1985, fundamental para a preservação da área. Citou a arquiteta Jussara Kley, cujo trabalho de conclusão de curso previa a utilização do espaço para criação de um parque público. Udo lembrou a mobilização comunitária que, na época, pagou pela aquisição do terreno de mais de 50 hectares, por meio de um imposto transitório, o equivalente hoje a 1 milhão de dólares. O ambientalista revelou a recente descoberta de uma espécie endêmica de lagostim que só existe no Parcão e frisou a necessidade de conciliar a preservação e o uso do espaço pela comunidade. “Além do bem-estar de termos essa unidade de preservação ambiental e do projeto de educação, que antes de pandemia atendia mais de 12 mil crianças por ano, umas das coisas que foi fundamental dentro do projeto do BID foi a preservação ambiental. O cercamento trouxe mais segurança àqueles que utilizam o espaço, mas ele é ainda mais importante para a preservação do ambiente natural.”

Ao longo do bate-papo, os espectadores enviaram perguntas e comentários aos participantes. Aurea Feijó considerou a discussão pertinente, o conteúdo riquíssimo e parabenizou a organização do evento. Para o perfil O Campanário, a movimentação comunitária em Hamburgo Velho é referência nacional. Injustamente pouco lembrada. Andrea Schutz disse que saber da história da compra do Parcão amplia o comprometimento da população de mantê-lo preservado. Deivid Schu afirmou que o trabalho, a educação e a inovação compreendem importante patrimônio imaterial de Novo Hamburgo. “Temos muito a comemorar, toda essa força nos traz aqui, firmes e determinados a sempre seguir em frente.” Já Heloisa Kromberg, que hoje reside em São Paulo, lembra que testemunhou muitas das atividades realizadas em Hamburgo Velho.

Para finalizar a conversa, os participantes ressaltaram a alegria em poder debater a cidade e resgatar a memória e identidade do povo. “Vocês foram muito felizes na escolha do nome desse projeto. Tem um sentido muito amplo. A cidade (in)visível para mim não é somente aquela que a gente não conhece, que a gente vai descobrir, mas, principalmente, é a cidade que está dentro dos nossos pensamentos, dentro do que nós sonhamos para melhorar o Município,” finalizou Ângelo.

NH rumo aos 100 anos

O projeto integra uma série de ações realizadas pela Câmara Municipal e outras entidades para pensar os 100 anos de Novo Hamburgo, que serão comemorados em 5 de abril de 2027. A primeira live marcou a apresentação do selo comemorativo e do site, produzido pela Gerência de Comunicação da Casa, com conteúdo histórico sobre a cidade.

Próximos encontros

Com o tema Patrimônio Artístico e Turístico, o próximo encontro terá a participação do secretário de Cultura, Ralfe Cardoso, do diretor de Turismo, Deivid Schu, e do cineasta Leonardo Peixoto. A live acontecerá na próxima terça, dia 20, às 19h.

No dia 29 de abril, será debatido Patrimônio Cultural e Identidade com o presidente da APMNH, Bruno Brinker, o publicitário e historiador Daniel Luciano e o arquiteto e urbanista Jorge Luis Stocker. Os bate-papos serão transmitidos pela TV Câmara, canal 16 da Claro/Net, e pelo Youtube.